A riqueza do campo, gerada pelos consecutivos
recordes na produção de grãos , colocou Goiânia (GO)
no radar do mercado de luxo. A cidade, de 1,4 milhão
de habitantes, vive um boom de lançamentos
imobiliários residenciais e comerciais, assinados por
grifes famosas do designer nacional e internacional.
Nos últimos tempos, desembarcaram na capital goiana
– localizada a 209 km de Brasília – nomes de peso,
como o estúdio de design italiano Pininfarina,
conhecido pelos projetos da Ferrari ; o Studio Arthur
Casas, de arquitetura; o WTC (World Trade Center); e
até o V3rso, marca de hotelaria butique, do hotel
Emiliano. O movimento tem elevado as vendas e
provocado uma forte valorização dos preços dos
imóveis de médio e alto padrões.
Além do agronegócio, a cidade virou um polo de
prestação de serviços da região centro-norte do País,
o que turbinou o mercado imobiliário . Por lá circulam
pessoas vindas de Estados vizinhos, como Tocantins, Mato Grosso, Bahia, também fortes no agronegócio, à
procura de hospitais, médicos e faculdades, por
exemplo.
Atentas à essa nova demanda, as incorporadoras
correram para agregar uma certa ostentação nos
empreendimentos, com designers famosos e muito
luxo. A intenção é atrair esse público endinheirado que
busca um imóvel para morar ou apenas servir como
uma base de apoio. Existem também empresários que
procuram espaços comerciais para tocar seus
negócios e outros que só querem investir.
Foi de olho nesse filão que a empresária Ana Flávia
Machado, CEO da AFS Empreendimentos, se uniu a
duas outras incorporadoras, a WV Maldi e a Joule
Participação, para levar a marca V3rso, hotel butique
do grupo hoteleiro Emiliano, à cidade.
A investida faz parte de um projeto imobiliário maior, o
Promenade, que será lançado em meados de outubro.
Serão duas torres residenciais de alto padrão, que
somam 285 unidades. Em uma delas, onde ficará o
V3rso, também serão vendidos apartamentos
compactos de luxo. É o primeiro projeto do Grupo
Emiliano fora do eixo Rio-São Paulo, conta a
executiva. A segunda torre será de apartamentos
maiores, de 265 metros quadrados. O valor geral de
vendas do projeto é de cerca R$ 350 milhões.
O empreendimento, que ficará no bairro Marista (o
equivalente aos Jardins, em São Paulo), terá ainda um
complexo gastronômico, praça, galeria de arte, além
de outros serviços. “Entendemos que Goiânia carecia
de um residencial com serviços a partir de uma
hotelaria de excelência”, diz a empresária.
A expectativa de vendas é alta em razão do momento
econômico e do comportamento da população que ela
bem conhece por ter nascido e se criado lá. Segundo
a empresária, Goiânia hoje é a bola da vez do
mercado imobiliário no Brasil e a população local é
muito conservadora nos investimentos. “Na hora de
investir, o goiano está com a mão no tijolo ou o pé na
terra.”
A City Soluções Urbanas, construtora voltada para
empreendimentos de altíssimo padrão em bairros
nobres da cidade, também tem buscado grifes da
arquitetura, como Arthur Casas e o escritório francobrasileiro Triptyque Architecture, para assinar vários
projetos.
“Grife encarece o produto, porém quando o luxo é
absoluto, o cliente paga 25% a mais do que a média
do mercado pela exclusividade e o ineditismo”, diz
João Gabriel Tomé, sócio-diretor da empresa.
Em abril, a construtora lançou um empreendimento
comercial, o Infinity Business, cujo projeto da fachada
e áreas comuns, é assinado pelo escritório italiano de
design Pininfarina. Segundo o executivo, é o primeiro
projeto comercial da América Latina assinado pela
grife italiana.
O edifício fica numa região nobre da cidade. Cerca de
80% do empreendimento, que tem heliponto e todos
diferenciais de prédio comercial de altíssimo padrão,
foi vendido. E o metro quadrado saiu por R$ 15,5 mil.
Diante do sucesso, Tomé conta que vai lançar um
segundo empreendimento assinado pela grife italiana.
Trata-se um projeto residencial que chega ao mercado
na virada do ano. O prédio, que será erguido num
bairro nobre da cidade, será tão bom quando o Infinity
Business, diz.
O ciclo de prosperidade do mercado imobiliário na
cidade foi puxado pelos empreendimentos de médio e
alto padrões. Eles responderam por 47% das vendas
neste semestre. O movimento de alta de lançamentos
e vendas começou em 2018 e atingiu o pico em 2022.
Entre janeiro e junho deste ano, houve uma certa
acomodação, porém os níveis elevados foram
mantidos.
Em 2022, foram lançadas na cidade 11.550 unidades,
entre prédios residenciais, comerciais, casas e hotéis.
É um volume 79% maior comparado ao volume de
2018, quando começou o ciclo de crescimento.
O valor geral de vendas desses lançamentos atingiu
R$ 6,3 bilhões, uma cifra que é quase duas vezes e
meia aquela registrada em 2018, aponta a pesquisa da
consultoria Brain, feita para a Associação das
Empresas do Mercado Imobiliário de Goiás (AdemiGO). A entidade reúne 90% das incorporadoras do
Estado.
Nesse período, as vendas também deram um salto:
mais que dobraram em valor geral de vendas (119%) e
aumentaram 68,5% em unidades, mostra a pesquisa.
Isso confirma o avanço de imóveis de maior valor. Os
preços, por sua vez, acompanharam esse movimento.
Para Ricardo Teixeira, diretor da imobiliária URBS,
outro fator que explica o crescimento do mercado na
capital de Goiás é o crescimento natural do município,
assim como a oferta de serviços médicos de alto
padrão. “Goiânia está completando 90 anos em
outubro, é uma cidade muito jovem e há uma
demanda espontânea do mercado imobiliário.”
Além disso, completa o executivo, a região é
referência em uma série de especializações médicas,
tanto que o Hospital Albert Einstein entrou na região, na Marista, uma das mais nobres da cidade. “O
município tem clima bom, qualidade de vida
interessante, pouca violência, custo de vida atraente, o
que leva muita gente para lá.”
Segundo Murilo Andrade, CEO da construtora Sousa
Andrade, por conta da demanda aquecida,
praticamente não existe em Goiânia estoque de
apartamentos novos, de um por andar, nem na sua
empresa nem no mercado local. No momento, a
companhia tem sete empreendimentos de alto padrão
em construção, que incluem grandes apartamentos e
compactos de luxo (estúdios), cujos preços variam
entre R$ 800 mil e R$ 7,8 milhões. Destes, um
empreendimento está praticamente todo vendido e os
demais, 80%. “Já temos programado três novos
empreendimentos nesse perfil para os próximos 18
meses.”
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